Retratos das Enchentes: Dados preliminares sobre o impacto das chuvas nas favelas e periferias brasileiras
A pesquisa revelou dados alarmantes sobre desigualdade, saúde e ansiedade climática.
Sete em cada dez moradores vivem em ruas que alagam com frequência. Esses são alguns dos resultados iniciais de Retratos das Enchentes, pesquisa que conduzimos no Instituto Decodifica para compreender os efeitos das chuvas extremas em favelas e periferias brasileiras. A pesquisa, que será apresentada na COP30, em Belém, mostra que o país ainda insiste em ignorar: a crise climática tem cor, gênero e endereço.

Foram ouvidas 718 famílias em quatro territórios: Acari e Kennedy (RJ), Passarinho e Dois Carneiros (PE). O retrato é alarmante: 70,5% relataram que suas ruas alagam com frequência, 64% tiveram as casas invadidas pela água e, em Acari, 84% perderam móveis ou eletrodomésticos. Entre os entrevistados, 43% não têm tratamento de esgoto, 21% não possuem água encanada e quase metade adoece após as chuvas, com sintomas como febre, dor de cabeça e diarreia.
A maioria dos participantes é formada por mulheres negras (42,3%), grupo que também enfrenta a maior sobrecarga emocional e de cuidado. Mais da metade das entrevistadas afirmou ter dificuldade para dormir ou se concentrar durante o período de chuvas, evidenciando o avanço da chamada ansiedade climática.
Os dados também mostram que 55% das pessoas não recebem qualquer tipo de alerta ou orientação sobre riscos de enchente. E quando o desastre chega, o primeiro socorro não vem do poder público: 51% afirmaram que o principal apoio vem das ONGs e vizinhos, enquanto apenas 39% citaram o governo. Para muitos, a resposta comunitária é a única rede de proteção real.
Com metodologia baseada em Geração Cidadã de Dados (GCD), a iniciativa é conduzida pelo nosso time em parceria com organizações de base como o Coletivo Fala Akari, o Instituto BXD, o Observatório Y-Guassú, a Casa Dulce Seixas e a Comissão Ambiental de Jaboatão dos Guararapes (CAJG). O projeto está sendo realizado em três territórios: Rio de Janeiro, Pernambuco, e a próxima, etapa será iniciar a pesquisa no Maranhão em 2026.
Os resultados iniciais de Retratos das Enchentes serão apresentados na COP30, como parte da agenda de incidência do Instituto Decodifica, que defende que a justiça climática urbana e os saberes locais ocupem o centro da Meta Global de Adaptação (GGA) e das negociações sobre financiamento climático.

Leia o relatório:
RELATÓRIO PRELIMINAR – PT
RELATÓRIO PRELIMINAR – EN