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Manas em movimento: cortejo artivista “Quem você acha que paga a conta climática” integra reivindicações na COP30

Projeto celebra a força coletiva de mulheres na política climática e reforça luta sobre impacto da crise climática nas mulheres e territórios periféricos, negros, indígenas e tradicionais.

O cortejo “Quem você acha que paga a conta climática?”, iniciativa da Hivos, junto ao projeto Manas do Instituto Decodifica e da Mandí, tomou as ruas de Belém neste domingo, 16,  reunindo jovens mulheres de diferentes territórios para reafirmar o protagonismo da juventude periférica e feminina na agenda climática. 

O encontro marca mais uma etapa do projeto Manas, que acontece no Rio de Janeiro e em Belém,  que desde 2024 forma, conecta e fortalece jovens mulheres que têm enfrentado de perto os impactos das desigualdades socioambientais.

O cortejo partiu da Estação das Docas em direção à Praça da República, e se uniu à Caminhada Mulheres pela Justiça Climática. Foram distribuídos materiais, adesivos, bottons, cartazes, feitos em parceria com as Manas do Rio de Janeiro e de Belém para representar as mulheres que estão na luta por justiça climática.

“A gente sabe que são as pessoas das periferias, das favelas, pessoas negras, indígenas e de comunidades tradicionais, em especial as mulheres que estão na linha de frente dos cuidados das famílias. Estamos aqui com diversas mulheres para apontar que ainda que nós sejamos as mais afetadas, nós também estamos na linha de frente das soluções. Nada sobre nós sem nós.” Francisca Cardoso, do projeto Manas no Rio de Janeiro.

O projeto nasceu da urgência de incluir mulheres periféricas nos espaços de debate e decisão sobre clima, um campo marcado por ausência de representatividade, linguagem técnica e distanciamento das realidades vividas nos territórios. Com uma formação baseada em justiça climática, educação ambiental, gênero e política, o Manas estimula que as próprias jovens apresentem informações sobre seus territórios, suas vivências e desafios. Isso transforma a experiência cotidiana em ferramenta política e reposiciona suas vozes como produtoras de conhecimento.

“O cortejo artivista foi nosso primeiro momento em coalizão como Rede Manas, então foi muito importante para fazer nossa incidência na prática e entender a receptividade das pessoas com os manifestos que construímos. Foi ainda mais especial estar com a marcha das mulheres, um movimento que acontece desde a ECO92 e vem abrindo caminho para que cada vez mais as mulheres sejam ouvidas e consideradas nas decisões, já que somos as principais impactadas pela crise climática, mas também estamos liderando soluções frente a ela.” Nicole Calheiros, do projeto Manas no Rio de Janeiro.

Durante o cortejo, essa potência coletiva ganhou forma nas ruas. Cartazes e mulheres em movimento deram visibilidade às pautas do grupo: racismo ambiental, falta de saneamento, enchentes, insegurança climática e o impacto emocional que a crise tem provocado nas juventudes periféricas. 

“Aqui a gente está reivindicando quem são as pessoas que mais sofrem com as mudanças climáticas, que são as pessoas que mais estou pagando por essa conta e, consequentemente, não são as pessoas que causam”. Camila, do projeto Manas de Belém. 

A primeira edição do Manas resultou em um relatório “Olhar das Manas: perspectivas periféricas sobre educação ambiental no Rio de Janeiro” com diagnósticos sobre educação ambiental. Também lançaram um manifesto político, “Manas por uma educaço ambiental, popular, interseccional e antirracista” documento que vem ganhando circulação em espaços de incidência e diálogo com governos e instituições.

O cortejo reforça a continuidade desse processo. As jovens chegam mais seguras, mais articuladas e conscientes do poder da palavra coletiva. O Manas tem mostrado que quando mulheres periféricas recebem formação, apoio e espaço elas redefinem as prioridades e reposicionam o que significa justiça climática no Brasil. 

“Quero saudar as Manas pelo projeto, pela atuação e pela cartilha, porque são formas de organização coletiva e nós precisamos mostrar que a força das mulheres vai transformar o mundo e garantir a defesa do futuro. Porque somos nós aquelas que têm condição de criar redes potentes e que vão mover essa história” Vivi Reis, Vereadora de Belém.

Além do cortejo, o projeto Manas terá uma agenda intensa ao longo da COP30. No dia 20 de novembro, às 13h30, o grupo integra o painel “Mana’s Network: Young Women Driving Climate Justice”, no Capacity Building Hub, na Blue Zone, e retorna mais tarde, das 16h30 às 18h, para o debate “Entre rios e territórios: confluências de diálogos sobre gênero, ética e clima”, no Global Ethical Stocktake Pavilion, também na Blue Zone. A agenda se encerra no dia 21 de novembro, quando as Manas participam do painel “Rising Youth Voices: Girls and Young Women Driving Climate Justice”, das 15h45 às 16h35, no Pavilhão Children and Youth, reafirmando o papel das jovens mulheres periféricas nas discussões climáticas globais.