Raça, gênero e território: Instituto Decodifica integra painel na Blue Zone da COP30 sobre adaptação climática no Sul Global
O Instituto Decodifica marcou presença na Blue Zone da COP30 no dia 14 de novembro, às 15h, durante o painel “Transformational Adaptation from the Global South: Race, Gender, and Territories in the GGA”. O encontro reuniu organizações e especialistas de diferentes países do Sul Global para discutir como raça, gênero e território precisam ocupar o centro das políticas de adaptação climática.
A atividade contou com a parceria de instituições como Black Voices for Climate, Network for Anti-Racist Adaptation, World Adaptation Science Programme, Adaptation Fund, SOS Mata Atlântica, Instituto Clima e Sociedade, Alana Institute, Amnesty International, Casa Fluminense, Geledés, Instituto Socioambiental e o próprio Instituto Decodifica.
As falas convergiram em um ponto: não há adaptação climática eficaz sem justiça racial, social e de gênero. Os participantes destacaram que as desigualdades que estruturam o Sul Global determinam quem sofre mais os impactos da crise climática e quem permanece afastado das decisões que definem os rumos da adaptação.
“Como Decodifica, trouxemos a importância de trabalhar com os conhecimentos vindos dos territórios, das comunidades negras, faveladas e periféricas do Brasil. Elas já estão se adaptando e desenvolvendo mecanismos para sobreviver”, afirmou Mariana de Paula, diretora-executiva do Instituto Decodifica.
Representando a organização, Mariana apresentou a experiência da Geração Cidadã de Dados (GCD), metodologia que parte da realidade dos territórios para construir dados e narrativas. Para ela, a GCD funciona como ferramenta de justiça climática ao ampliar a presença dos territórios nas negociações globais.
A diretora também compartilhou achados do projeto Retratos das Enchentes. “Quarenta por cento da população entrevistada não tem acesso a nenhum tipo de informação sobre o que fazer diante das enchentes ou qual apoio pode buscar do Estado. Como discutir adaptação ao nível global sem olhar para o básico, para o que acontece localmente?”, destacou.
O painel discutiu ainda a necessidade de estratégias de adaptação transformacional, capazes de enfrentar e modificar as estruturas que produzem vulnerabilidade. A atividade foi realizada em formato de aquário, estimulando a participação ativa do público e a circulação de diferentes perspectivas.
“Foi uma ótima oportunidade de ampliar o debate, ouvindo organizações de várias regiões do país sobre como trazer raça, território e os impactos dos eventos extremos para a discussão da GGA, que segue em negociação nesta COP”, completou Mariana.
A primeira semana da COP30 foi marcada pelo debate sobre a Meta Global de Adaptação (GGA). Há uma proposta de consenso para adotar 100 indicadores globais, mas o tema provoca divergências. A presidência brasileira tenta manter o cronograma para aprovar o pacote ainda nesta conferência. O debate sobre meios de implementação continua sendo um ponto sensível, especialmente no que diz respeito ao financiamento necessário para viabilizar esses indicadores.
A presença do Decodifica no painel reforça o compromisso da organização em promover justiça climática baseada em dados, comunicação popular e mobilização territorial, sempre a partir da escuta e do protagonismo das comunidades.
“É fundamental esse tipo de painel porque reúne organizações que produzem conhecimento a partir dos territórios. As soluções para a crise climática precisam nascer de quem vive os impactos. Quando os territórios são ignorados, pensamos o clima de modo tecnicista, distante da vida real. Organizações como o Decodifica qualificam esse debate ao produzir dados que mostram quem sofre de forma desproporcional os efeitos das mudanças climáticas”, afirmou Thales Monteiro Vieira, co-diretor do Observatório da Branquitude.